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28 April 2006

Sono filosofal

Esta noite acordei de madrugada. Dei comigo às voltas na cama a tentar adormecer de novo. Não adiantou. Os olhos não queriam abrir, pesados de cansaço, o corpo estava dormente de estar na mesma posição mas a mente recusava-se a fazer uma pausa e deixar que o sono a invadisse. Ainda houve um momento que ela esteve quase a render-se mas levantou as armas quando ecoou pela casa o barulho da máquina de lavar roupa da vizinha debaixo. Fiquei alerta novamente e olhei para o relógio. 3h30. Suspirei. Pensei nalguns palavrões mais apropriados à situação, com os olhos ainda a reclamar de se terem aberto por alguns segundos (tive de focar os números vermelhos neon do despertador) e voltei a tentar novamente adormecer. Era suposto ser fácil. Afinal, os olhos já estavam fechados. A mente divagou, por onde já não me lembro, e acabou na Pedra Filosofal. Não conseguia afastar o poema de António Gedeão. Seguiu-se imediatamente a música. Primeiro o refrão. Soava repetidamente, como um disco riscado. Depois dei conta que sabia mais um bocado. Quase metade, para dizer a verdade. Quis mudar de tema e fui parar à “A Minha Alegre Casinha”. Soou a música dos Xutos e Pontapés durante uns segundos e depois voltei à Pedra. Cantei mentalmente. Talvez fosse como os sonhos maus – quando contados a alguém não voltam a aparecer. Mais uma. E outra vez. Não resultou. Voltei a dormir uma hora e meia depois, esgotada a canção. Não quero voltar a repetir o show musical desta noite. Vou tentar exorcizar ambos os poemas deixando aqui as letras do que cantei. Boa noite.

Pedra Filosofal

Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.

Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.


A Minha Alegre Casinha

As saudades que eu já tinha
Da minha alegre casinha
Tão modesta quanto eu
Meu Deus como é bom morar
Num modesto primeiro andar
A contar vindo do céu.

26 April 2006

Política

Não gosto de falar de política. Nem o vou fazer. Mas achei interessante este artigo publicado em 1867, por Eça de Queiroz. Está actual, apesar da diferença de 139 anos.


25 April 2006

Como sombra

A vida agoira sobre os vivos porque não o pode fazer nos mortos.

24 April 2006

Enlaçados

Os laços que enlaçam
os laços de família
são traços entraçados
que não se desfiam

São fios que se prendem
formam a linhagem
destes descendem
nós em contagem

E o fio contorçido
enredando memórias
está assaz comprido
com velhas histórias

Agulhas finas, delicadas
não páram de tecer
vidas contínuas, delgadas
de todo o ser.

19 April 2006

Expressões infantis

Nada como uma criança para agarrar as expressões mais simples da vida. Pode ser em post-its.


TRISTE





FELIZ




ESPANTADO

18 April 2006

O outro lado do campo

O almoço de família em domingo de Páscoa foi na casa da minha tia, para os lados de Santarém. Os meus tios são pessoas da cidade que tiveram a possibilidade de ir para o campo. A minha tia, mulher de acção sem medo de trabalho (apenas de bichos), viu a oportunidade de ter uma casa de campo. O meu tio, homem bruto mas culto, viu a oportunidade de ter uma pequena quinta. O resultado foi uma mistura de ambos. Uma casa decorada com gosto com um pomar na frente e pastagem atrás.
Aos poucos, como se de uma colecção se tratasse, foram surgindo os animais. Primeiro um cão, dócil e armado em D. Juan, depois outro com ar enganador de fera. Mais tarde, um gato de pêlo todo branco e outro malhado, com mania de que é tigre. Todos se deram bem, sem fazer justiça à guerra “cão e gato”.
As galinhas tiveram que esperar que o galinheiro fosse acabado mas depois vieram cerca de 15, contando já com o galo. Na mesma morada, vivem também três pombos.
E como uma pastagem serve para pastar, faltava a quem dar o pasto a alimentar. Vieram as ovelhas: duas ovelhas e um carneiro, para ser mais exacta. Por fim, a última aquisição está instalada ao lado do galinheiro: um casal de coelhos.
Pensei que a minha tia, pessoa pouco dada a animais, gostaria de ter uma variedade mais limitada. A ideia partiu, na verdade, do meu tio que fez questão de vestir a personagem de pequeno agricultor.
Desde o dia em que se mudaram, achei que duas pessoas da cidade, sem experiência de campo, poderiam ter algumas dificuldades com o novo e variado espaço. Tudo parecia correr bem. Foi relativamente simples tratar dos cães. Arranjar guarida para os gatos, também. Talvez, pensei eu, fosse mais fácil do que parecia. Ou não.

Há cerca de um mês, ao ir dar de comer às ovelhas pela manhã, o meu tio encontrou, com grande espanto, não três mas quatro ovelhas. Uma tinha engravidado, pariu um cordeiro e ninguém deu conta.


A história de domingo começou pela briga dos coelhos. Um já tinha a orelha roída. O meu tio pediu conselho a um vizinho, homem do campo, pessoa prestável e mais entendida em coelhês. À vista desarmada, o bom homem sorriu e chamou a mulher. Foi a senhora que confirmou a notícia. Não eram dois machos, não senhor. Eram um macho e uma fêmea. A luta prendia-se com o facto do macho estar a pisar o ninho que a fêmea tentava construir. Ninho? O olhar do meu tio aguardava a inevitável notícia. Estava grávida e paria ainda hoje, sentenciou a boa senhora. Abanos de cabeça e uma coelheira limpa o mais rapidamente possível e enchida com palha, foi o resultado. O coelho foi hospedado no galinheiro, à pressa, para deixar a coelha à vontade. Não sem o protesto espalhafatoso das galinhas que fugiram para um canto (galo, incluído, o medroso), incomodadas com o novo e forçado hóspede.
As novidades não ficaram por aqui. A confusão gerada na moradia das (de)penadas fez surgir uma pequena bola amarela de patinhas finas por debaixo de um dos ninhos. Foi a minha filha que o descobriu. Não é um pintainho? Sim, é. Filho único no meio da confusão.


A tarde já ia a meio e a coelha, aflita, andava com a palha na boca de um lado para o outro, alisando, compondo o pequeno espaço.
Era preciso vir embora para casa mas não resisti, fui ver de novo a coelheira. Apanhei o terceiro coelho a nascer, pequeno e sem pêlo, como um pequeno hamster mas de orelhas maiores. Todos fomos ver.
Pus-me à estrada.


A Mãe quando fala é para ser ouvida, quer a palavra cumprida, boa ou má. Não espera ordens, nem cumpre prazos senão os que ela faz. Continuará a falar para todos os seres vivos. Não vai esperar que o meu tio construa outra coelheira. Vai continuar no seu passo e o meu tio vai ter de a acompanhar.

10 April 2006

Uma mão cheia de nada (é teu, 'tia'...)

Como se escreve quando não há o que escrever?

Não adianta, pensar, ou tentar arranjar um tema. O cérebro não pensa a altas horas. Só tenta permanecer activo mesmo sem nada para escrever.
Com Fernando Pessoa na contra-capa de um post não escrito (não há sobre o que escrever) musa pobre para um espírito vazio, não sei para onde a escrita me leva. Deixo que a 'pena' guie a mão e espero que a viagem tenha um destino. Não sei para onde vou, nem páro a perguntar caminho. Só sei que não me detenho mesmo que não exista nada por onde correr. Ando às cegas. Não me importa. Tenho fado. Está traçado a cada passo marcado pela escrita que segue lado a lado de um nada, de um vazio preenchido a cada instante.

Numa mente despejada, uma fonte jorra secretamente (disfarçadamente) um turbilhão de pensamentos, tão rápido que deles nada se percebe a não ser a sua clareza superficial. Eis que a fonte se esgota numa aparente torrente imparável como se emergisse um obstáculo invisível e quebrasse a corrente. E dela, não se percebe para onde terá seguido, apenas que foi interrompida. Um fundo escuro cobre o chão cristalino, das águas jorradas pela fonte. Pensamentos derramados seguem o fluxo da àgua. Não estão perdidos. Apenas caídos. Procuram o seu lugar, sem se espalhar. A água encontra sempre o seu nível. Eles aguardam.

Serão recolhidos, logo que possível.


[Qualquer coisa que encheu uma folha de papel à 01h30 desta manhã.]

07 April 2006

Zumm de açucar

Num pacote de açucar de uma marca de café com ilustração supostamente humorista:

"Pensamento do dia - A cidade é uma grande comunidade onde as pessoas se sentem solitárias em conjunto".

Ok. Quem quiser, pode deixar uma gargalhada aqui. Também se aceitam comentários de solitários.

06 April 2006

Zumms de Rock

Os Roxette são a minha banda de eleição. Um grupo que, ao contrário dos restantes, teve sucesso com os primeiros álbuns e mais ainda nos que se seguiram. Algumas músicas fizeram-me companhia durante várias crises (de identidade, de escola, de amizade, de namoro). Numa canção, era capaz de me deixar navegar pela letra e embalava numa viagem de 3 minutos pelo "outro lado". Reencarnava na personagem principal, passava pela fronteira do meu quarto e embrenhava-me num outro pequeno mundo descrito na canção.

Hoje, ouvi de novo algumas músicas. Dei por mim a reviver momentos suaves e leves como uma neblina matinal. Outra música, outro momento. Idem, idem, idem. Surgiam a cada palavra cantada, como num sonho guardado numa sala-recordação, das tais que pensamos ter a porta trancada e não sabemos da chave. Eis que, destrancada, recordo. E sinto-me feliz.
Oiço e estou a viajar. Estou outra vez do outro lado. Tomo atenção à letra:

She's so vulnerable, like china in my hands
She's so vulnerable and I don't understand
I could never hurt the one I love
She's all I've got
But she's so vulnerable
Oh so vulnerable.

Days like these no one should be alone
No heart should hide away
Her touch is gently conquering my mind
There's nothing words can say.


E no fim, violinos. Outro instrumento (para além do piano) que me deixa presa a uma música. E sinto-me vulnerável.

Outra música:

...I do believe love came our way
and fate did arrange for us to meet

I love when you do that hocus pocus to me.
The way that you touch,
you've got the power to heal.
You give me that look,
it's almost unreal,
it's almost unreal.


As recordações surgem e fazem-me sorrir. Invande-me uma felicidade juvenil.

Este Hocus Pocus é almost unreal.

03 April 2006

Abril, ora chora ora ri

E para não fugir aos provérbios, o céu é azul e está uma tarde solarenta, a jorrar raios quentes que fazem jus ao top de alças que trago vestido. O vento é afinal uma brisa de algodão-doce que convida a passeios à beira-mar.

Mas ainda não vi mais andorinhas.

Abril, tempo do cuco, de manhã molhado e à tarde enxuto

Hoje, o céu azul está escondido por um tapete de nuvens cinza que não deixa ver o sol. Se se afastasse, poderíamos ver o verdadeiro aspecto de um dia de Primavera. O vento desagradável tornar-se-ia uma brisa convidativa. A bola de luz, tapada pelas nuvens, jorraria os seus raios quentes por cima da cidade - e sobre mim, fazendo juz ao top que trago debaixo do casaco.

Mas não está assim. O céu está cinzento, corre um vento incomodativo e parece o início de um dia triste. É, contudo, Primavera. Ainda, ontem, vi a primeira andorinha deste ano. Já tinha pensado quando as veria. Aparecem sem dia marcado. É sempre uma supresa. Como uma visita inesperada mas bem-vinda. Para mim é sua vinda que marca o início da estação. Porque as andorinhas sabem melhor que ninguém quando é que começa o calor. Não lhes interessa, que nós humanos, tenhamos uma marca no calendário. Interessa o que a natureza lhes diz. A Mãe tem uma voz diferente. Sabe sempre quando as deve chamar ou dizer-lhes que está na altura de partir. E ela falou.