Apanho condutores de todo o tipo na minha deslocação diária (só em dias úteis) para a estação do Metro - aquele que me leva, efectivamente, ao trabalho.
Tenho o dom de apanhar os mais estranhos e, principalmente, os que andam desesperadamente devagar. Nem sempre é fácil aceitar ir a menos de 40 km/h numa recta com pouco trânsito onde a velocidade habitual é de 80 km/h (eu sei que está acima do permitido por lei mas é uma estrada segura, com poucos peões, larga e sem sinais).
Juntam-se aos vagarosos condutores, camiões do lixo (como é que eu os apanho de dia??), autocarros, alguns carros desnorteados (não vejo outra razão para andarem hesitantes e virar de repente numa rua qualquer). Também igualmente problemáticos são os velhinhos ao volante (os piores), mulheres (onde me incluo obviamente) e gajos de outras raças (pretos, indianos - não todos mas a maioria) que NÃO SABEM conduzir.
O pior é se os apanho a todos no MESMO DIA. Que horror. Parece que ando num jogo de computador onde só vale a pena jogar se carregarmos nas teclas todas sem cessar, freneticamente, esperando poder progredir.
Sou só eu que os apanho??
16 June 2006
Condutores
Publicada por Heiabelha em 16.6.06 2 ferroadas
12 June 2006
Um dia sem ti
Dei conta este fim-de-semana, de como levamos a vida tão apegada aos filhos.
Por um dia, deixei que a minha filha fosse levada e que alguém (que não eu) tivesse que estar de olho ao que fazia, lhe desse de comer, brincasse com ela, ralhasse quando a cabeça ficasse ao alcançe dos raios solares, se preocupasse com atacadores de sandália que ganham a mesma cor do chão e potencializam os tropeções, por si já tão bem instalados na existência da minha filha.
Espantei as ansiedades e vi-me a par com um dia por preencher. Não me sentia bem. Um nó no estômago, uma vontade de viajar para o mesmo destino do carro que levou a filha, para depois voltar para trás, só para saber como correu a viagem. Senti-me apática.
Suspirei. Olhei para o resto do dia e pareceu-me comprido.
Afinal, o que é que eu fazia antes de ter uma filha? Havia a necessidade de me lembrar e depressa. Não foi fácil e nisso o marido teve o papel mais importante. O almoço foi diferente. A salada impôs presença à mesa, o que não acontece tantas vezes como devia. E, se estava a pensar como as coisas estariam a correr, depressa o soube. A avó ligou a relatar a chegada. O passeio depois de almoço, já tão repetido, foi uma (re)descoberta (a avó ligou a relatar a tarde). Tempo para um filme não-infantil (a avó ligou a avisar quando é que voltaria). Pressão de água favorável e um duche antes do jantar. Noite chegada e uma filha entregue a dormir de cansaço.
Obrigada, avó, pelo relatório prestado e pelo dia passado. Obrigada, mor, pelo resto do dia.
Publicada por Heiabelha em 12.6.06 2 ferroadas
09 June 2006
Amor
E, como hoje nada tenho para dizer, deixo um poema da Florbela Espanca.
Amar!
Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!
Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!
Há uma primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!
E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...
Bom fim-de-semana.
Publicada por Heiabelha em 9.6.06 2 ferroadas
07 June 2006
Vista curta
Tenho dificuldade em agradecer todos os dias o que a vida tem de bom. Espremo as palavras em sumo de conta-gotas, para um copo quase vazio. Olho e penso que ficarei com sede depois de um gole num só trago.
Porque há coisas boas à nossa volta, eu luto para as ver mas vejo-as como se necessitasse de uns novos óculos. De testa e nariz franzidos, com os óculos a escorregarem pela penca abaixo. Falha-me a vista e não vou ao médico com receio que não haja cura para o meu mal.
Por vezes, as coisas parecem diferentes. Eis novas lentes de aumento e avisto algo bom que merece ser apreciado. Como um elogio inesperado. Como um desenho infantil em que parecemos uma batata com braços com um sorriso maior que a cara, que nos ilumina o rosto batatóide. Como uma ajuda imprevista de alguém que nos é próximo.
E eu? Que ajudo eu? E a quem? Sinto-me como um prato requintado sem sal. (En)sonsa.
Publicada por Heiabelha em 7.6.06 3 ferroadas
01 June 2006
Lamber gelados
Os dias quentes convidam a um gelado. Foi isso que fiz. Pedi um gelado. Escolhi algo crocante com um sabor doce mas não muito. Regalei-me com a ideia de um sabor único em cima do cone. Uma lambidela. Duas lambidelas. Era o sabor certo. A ideia de ter a língua de fora não me agradava, não sei porquê. Devia ser falta de hábito. Os últimos gelados que comi eram de copo. Três, quatro lambidelas e… ups. E a bola voou para fora do cone, estatelou-se no chão com um sonoro “poc”. Fiquei desolada a olhar para o chão, com uma bola ainda lisinha e um cone de bolacha inteiro e rijo (ainda não tinha tido tempo de amolecer com o gelado). Que cena.
Cheguei à conclusão que comer gelados também precisava de prática. Por isso, este Verão vou ignorar os quilos a mais e vou exercitar a minha língua com gelado na mão. E vou esquecer que é considerado mal-educado ter a língua de fora, praticando umas lambidelas rápidas mas menos violentas.
Publicada por Heiabelha em 1.6.06 1 ferroadas