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27 July 2006

Curto passeio

A caminho do trabalho, decidi sair na estação de metro anterior e ir a pé. Um leve passeio para arejar as ideas e as sandálias de fitas que estiveram em casa, fechadas no terceiro compartimento de plástico de um móvel feito do mesmo material – o único da casa-de-banho. Começei a andar e verifiquei que estava a curvar as costas. Imaginei então um fio preso no alto da cabeça - como as marionetas têm - e que alguém o puxava. As costas acompanharam a minha fantasia e responderam, endireitando-se a cada passada. Por fim, andei direita, com um porte que me pareceu mais bonito e até o delinear do meu rabo parecia mais pequeno (o que é difícil). E, no meu novo passo endireitado, sorri e dei passos confiantes, largos, vigorosos, em direcção ao meu destino. Sorri e tentei não franzir os olhos, nem a face que levavam em cheio com a luz do sol de Verão. Não é simples. Há que descontrair os músculos e contrariar o movimento de encolher ou franzir, seja o que for. Segui o meu caminho com um ar mais descontraído, disfarçando as minhas paragens para atar as fitas das sandálias, ora de um pé ora de outro.
O vento obrigou-me a segurar a saia para que não mostrasse as pernas acima do joelho e deu-me um novo penteado despenteado, ao estilo rebelde do que o meu cabelo gosta de cada vez que não o moldo com o secador.


E cheguei.

24 July 2006

Ainda as àrvores aqui da rua

Depois do abate das àrvores aqui da rua, supostamente mortas, não vieram as Pyrus Callersyana em substituição. Em vez disso, ficaram os troncos cortados, numa espécie de monumento vivo. Calculei que deve ser difícil arrancá-los pois as raízes estendem-se debaixo do passeio aprumado. Espanta-me agora a forma como se encontram. Estão cheios de verdura nova ao ponto de mal se verem os troncos serrados. Foram abandonados ao seu destino e revelaram-se vivos e capazes de florescer. Pergunto-me se as ditas àrvores estariam realmente mortas, como anunciado. Seria um capricho de um vizinho farto de acordar com a visão das folhas verdes à janela? Poderá ser a vontade de um só, indiferente às restantes vontades alheias? Assaltam-me as perguntas e as teorias na cabeça, todas sem resposta. Só sei uma coisa. A vida desperta nos troncos abatidos, enchendo a rua de verde outra vez.

19 July 2006

Zumm lido

"A felicidade é como a saúde: se não sentes a falta dela, significa que ela existe".
Ivan Turgueniev

18 July 2006

Nostalgia

Que seca! Mais um dia = rotina. A vida social foi por abaixo há já algum tempo. Resume-se ... espera. Não há o que resumir :P. É verdade. Não foi só por água abaixo como deixou de existir.
Este fim-de-semana, numa tentativa de ir à praia - só podendo ser totalmente compreendida por quem também tentou e desesperou com as filas por todo o lado, antes, durante e depois da Costa da Caparica (acrescentar o calor abrasador e temos o cenário composto) - conseguimos encontrarmo-nos com uns amigos a caminho da praia. As duas horas que se seguiram foram divididas entre a tentativa de estacionar, um pouco de conversa entre um mergulho e secar em cima da toalha e despedir para vir embora. A existência de crianças de ambos os lados fez com que os horários tivessem que ser cumpridos, diminuindo o tempo em conjunto.
E isto foi o melhor que se arranjou em vários meses.

Caí na rotina. Está, irremediavelmente, instalada no meu dia-a-dia. Como a nódoa que não sai. Não sei contorná-la ou enganá-la. Tento mas ela é mais esperta. Tem mais experiência do que eu. É da idade. Vencida mas não convencida. É assim que eu vejo a coisa. E vou tentado dar a volta. É difícil porque não há meios para isto. Faltam subsídios de apoio à exclusão social. Devia haver um em cada orçamento familiar. Para todas as idades.

Penso na minha avó, a única que me resta, que tem 82 anos e vive com a minha tia. Apesar dos netos a adorarem, a bisneta também, as filhas apoiarem-na, faltava alguém com quem falar. Uma amiga. Ela também não pode sair sozinha por muito tempo. A família que lhe resta está longe. Os poucos amigos falecidos. Alguns ela nem sabe da sua morte. Escondemos as notícias como se fossem rebuçados tirados da mãos de gulosos.
A minha avó tinha muito jeito para esconder as coisas. Lembro-me de uma vez que escondeu das minhas mãos o frasco de pó-talco que eu usava em vez da farinha para fazer "bolinhos" para as bonecas. Andei dias a espreitar o armário da casa-de-banho mas nada de frasco. Um dia, na cozinha, procurava uma embalagem (não me lembro do quê) e dei de caras com o pó-talco arrumado ao lado do azeite e do vinagre. Esteve ali mesmo à vista durante dias e eu não dei conta.
Tenho saudades desse tempo em que ela tinha ainda a sua casinha e cozinhava uns fabulosos rissóis de peixe que nunca mais comi nenhuns iguais. Preparava-os de raiz. Primeiro a massa. Com farinha, fermento, azeite, sal e água a ferver. Amassava tudo, enquanto fumegava, até ficar uma bola. Não sei como aguentava o quente. Deixava a levedar. A massa duplicava e era estendida com um rolo da massa em madeira e depois cortada em círculos com um copo grande de vidro - já não há copos de boca larga como antes, só canecas mas não é o mesmo - e recheava cada bolacha de massa espalmada com um delicioso refogado de peixe feito na frigideira preta, toda preta, pega incluída, a qual nunca percebi bem se era mesmo toda feita em metal. Depois dobrava a massa ao meio, em semi-círculo, e fechava delicadamente a borda, apertando a massa com cuidado. Eu comia pedaços de massa que ficava fora do copo, que formava os rissóis. Ou então, improvisava um rolo de massa com uma garrafa - que antigamente era quase todas em vidro, fossem de leite ou de água - e fazia pequenos rolinhos a imitar croquetes ou tortas, conforme a brincadeira. Tudo comestível.

Ela já não se lembra de como se fazem, por causa da idade avançada. Eu, por causa da tenra idade, não me lembro como se fazia. Só o que aqui está descrito. Como num sonho repetido, em que sabemos o que vai acontecer. Talvez ainda me venha a lembrar de mais detalhes e consiga lembrar-me da receita por inteiro. E aí venham os rissóis. E mais uns para a minha avó. Desta vez serei eu a deixar comer os bocadinhos de massa que ficarão do lado de fora do copo.

11 July 2006

Dia tropical

Não. Não acabei com o blog. Esteve abandonado, não me apeteceu tomar conta dele. Dias houve que não me apeteceu tomar conta de mim.

Hoje, dia típico de clima tropical, de céu escuro, vi uma estranha dança com três protagonistas principais: folhas, chuva e vento. Rodopiavam as folhas soltas pelas árvores e as gotas refrescantes ao sabor da agitação temporal, criando um movimento circular e aspiralado, num suave remoinho de verde e amarelo. Pelo meio, interropiam os chapéus de chuva abertos com criaturas vestidas de camisas de alças, abrigadas da chuva. Havia também quem não tivesse chápeu e nem tentasse fugir da dança. Pelo contrário. Inadvertidamente, fazia parte dela. O passo calmo, ritmado, debaixo do ameno aguaceiro, actuava como um compasso, marcando pausas às varridelas do vento que movia as folhas, os cabelos, os tecidos soltos das saias das senhoras. Tudo isto assisti, no meio do palco aberto, de cabelos no ar, sem correr.

Penso que este é o nosso Verão, agora. Diferente do que estamos habituados, saltando entre o Outono e a Primavera, ainda sem definição concreta.

06 July 2006

Insperiência


Um novo conceito que apredi hoje mesmo. Tem como objectivo trazer para dentro de casa uma experiência que habitualmente está disponível no domínio público (ou seja, fora de casa).
Por exemplo, ter um home cinema em casa. Estamos a trazer o cinema para o domínio caseiro.
Há mais insperiências que se acomodam a este exemplo. Pipocas. Podemos ter uma máquina de pipocas 'caseira' ou uma máquina de algodão doce, se preferirem. Já agora, vi ambas à venda na Box do Jumbo, se alguém estiver interessado.
Pois, fiquem insperiênciados - é só juntar um sofá confortável, home cinema com o devido ecrã proporcional à coisa, uns amigos (para tossirem no meio do filme e comentarem em voz alta, faz parte da insperiência) e... voilá.