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28 September 2006

Cara à banda

Recebo chamadas dos leitores. São ossos do ofício. Deste pelo menos. Ouvir queixas ou lamentos, de quem sofre do outro lado da linha telefónica. Já ouvi elogios. Já ouvi desaforos no aparelho residente desta empresa bafejada pela vaga de despedimentos não-colectivos. Também eu podia ligar para mim mesma e relatar o que aqui se passa, falar sobre a supresa da notícia que se estampou na cara das pessoas, narrar o filme desta tempestade de insegurança que desabou, não em forma de chuva mas sim de sussuros de dúvidas, de exclamações de espanto, acenos de cabeça de reprovação, com "a cara à banda" (expressão usada pela minha avó em diversas situações de surpresa). Contenção de custos, dizem.
Eu também me contenho. Em comentários.
Oiço um senhor. A queixa é sobre os correios. Atrasaram-se na entrega das cartas e agora tem contas em atraso. Vai ter de pagar taxas de juro demora. E mais. O carteiro falsificou a assinatura do destinatário e ficou-lhe com a carta. Continua a expôr o caso, quer ser uma fonte anónima, não se importa de falar sobre o assunto. Quer que alguém lhe dê ouvidos. Quer expôr esta vergonha que se passa neste país, onde os desavergonhados governam. Como se fosse possível, através da exposição do assunto, que o carteiro fosse castigado e justiça fosse, assim, feita. Quase lhe disse para ir à polícia apresentar queixa. Mas pensei que também eles nada fariam. É preciso provas. Não há muito por onde pegar. É mais um de "cara à banda".

18 September 2006

Pós paz das férias

É com um certo pesar que volto a um ritmo forçado de rotina após um ritmo desacelarado alcançado durante as férias. Ali, na aldeia, tudo se faz sem pressa e, no entanto, sem atrasos. Vive-se serenamente e para mim, que me considero uma rapariga de cidade, com uma pacatez a que não estou habituada. Preciso de uma certa adrenalina, já não sei viver sem pressão, sem stress, sem horários apertados onde mal há tempo para estar a par da última série da TV ou para uma ida ao café com os amigos ou até para ir ao cabeleireiro.
Sem ainda esquecer a liberdade que usufrui na pequena aldeia ao lado de Viseu, chego à porta de minha casa, de táxi alugado pela companhia de seguros - o meu carro sobreaqueceu na área de serviço do Pombal e obrigou-nos a diversas chamadas, capôt aberto, olhares revirados e horas perdidas com o reboque a finalizar a situação. Deparo-me com a realidade, crua e diferenciada, do prédio que habito, uma centena de quilómetros para sul, ao lado de um bairro social recém-construído e ainda em adaptação (está melhor nos últimos tempos, mais sossegado). Voltei a ter cuidado quando saio à rua, quando vou ao multibanco, quando entro num café a uma hora mais tardia. Mesmo assim, esqueci-me, nos primeiros dias, da diferença hospitaleira sentida no norte e entrei na frutaria ao pé de casa com um sonante "bom-dia" ainda contagiada pelo espírito nortenho. Só a dona da frutaria me respondeu (e porque conheço a D. Lurdes dali mesmo e às filhas que às vezes andam pelo meio da loja, entre as maçãs royal gala e as maçãs bravo esmolfe e porque cordialmente me cumprimenta, alegre e franzina, todos os sábados na sua árdua e atarefada lida de reposição de frutas e legumes, alguns tão pesados e volumosos como a sua pessoa).
No regresso ao emprego senti-me ainda influênciada pela boa educação e cortesia de Viseu, cumprimentado toda a gente e adoptando o ritmo trazido de casa. É nele que ainda penso estar a viver e penso continuar até a sensação persistir, o que me deixa curiosa, atenta em saber até onde pode durar algo tão rapidamente adquirido (o que é bom acaba depressa e eu preferia que persistisse este feeling de descontração, aliás gostava que se enraízasse e crescesse como erva-daninha dentro de mim, que não me ia importar). E embalada neste ritmo, termino com um bom dia para vocês.

01 September 2006

Em férias

Estou de férias num cantinho de Portugal, numa aldeia perto de Viseu onde o sino da igreja toca as doze baladas a meio do dia e ao início da madrugada e repete-as quase de seguida, caso não tenhamos tido tempo de as contar.
Nesta aldeia pequena, onde nada falta - nem a internet que apesar de gratuita é contada ao minuto e termina no zero em contagem decrescente de meias-horas - estou a descansar e a tomar-lhe o gosto. O ritmo é diferente apesar de toda a gente fazer o mesmo que em Lisboa: compras de supermercado, trabalho, ida ao café, pagar as contas, impostos e segurança social. Mas parece que sobra tempo. Aqui o relógio marca o passo lentamente e faz com que sobrem horas no mostrador ao fim do dia. Dou passeios depois do jantar, com calma, sem a preocupação de algo urgente para acabar ainda antes de me deitar, respiro o ar puro, caminho no meio da estrada quase sem trânsito e chego a pensar que seremos (eu, marido e filha) as únicas alminhas vivas na aldeia aparentemente deserta. Chego ao café e eis que a esplanada está repleta de vida. As crianças brincam despreocupadamente na praça em frente. Eu também deixo a minha ir saltar para a borda dos passeios junto das outras crianças. E penso que estou a habituar-me bem demais aqui. Poder relaxar e deixar a minha filha brincar no meio da rua, ir a um café e devolverem-me os óculos de sol perdidos há 2 dias, ouvir bom-dia em todas as esquinas, pessoas hospitaleiras à minha volta, pão de mistura acabado de fazer em fornos a lenha (ai meu Deus, como o pão sabe bem só com manteiga) .... Enfim, não estou acostumada.

Ai, ai. Estou é a ficar muito mal habituada. Vai custar voltar ao "normal".