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06 December 2006

UM CONTO DE NATAL


O cansaço pela vida chegou ao coração de Melissa. A perda de tantas emoções ao longo de sua vida, assim como a ingratidão das pessoas, as desavenças com a família que tanto queria que fosse unida, fez dela uma mulher em eterna depressão, onde já não notava o amor do marido e nem dos filhos.
- Para quê viver?
Era a pergunta que ela mais fazia.
- De que vale a vida?
Era a sua busca diária constante.
Com esse quadro, não demorou muito para que a medicação tomasse o espaço de seu livre arbítro. Ela não decidia, sequer, sobre o seu sono, pois ele só ocorria com a ajuda dos químicos, que anestesiavam a sua mente e afastava-a, por alguns instantes apenas, da realidade em que vivia.
O Natal já se aproximava. Mas, este ano seria diferente! Ela nem sequer pensava em preparar a sua árvore, tão pouco a sua casa. Ela já não tinha o que comemorar.
Sentindo-se incompreendida por tudo e por todos, Melissa deixou o seu lar e foi morar sozinha, quando faltavam apenas 10 dias para o Natal. E, na sua solidão, muitas outras perguntas surgiram e outras dúvidas varriam a sua mente.
- A minha vida não vale nada! Ninguém sentiria a minha falta depois de alguns dias da minha morte! É sempre assim: as pessoas passam e pronto... – dizia ela a si mesma.
Sai então a passear de carro pelas ruas, tentando arejar a cabeça, e vê muita gente em clima de festa e volta a questionar-se:
- No fundo, somos todos hipócritas: festejamos algo que acreditamos, mas não praticamos; não temos força para deixar de praticar aquilo que combatemos. Quando passar o Natal, estas pessoas vão voltar ao seu normal, com as suas individualidades, os seus egoísmos e os seus encolher de ombros para tudo que realmente interessa nesta vida. Estou cansada de tudo isto, Natal é uma coisa passageira, e pior ainda, falam e enaltecem o Cristo neste dia e depois nem se lembram das promessas que fizeram na Ceia. As pessoas esquecem-nas por terem medo e incapacidade de cumpri-las...
Já era tarde, e ela tão-pouco notou que o seu carro ficara sem gasolina. Vinha-se a esquecer de fazer muitas coisas triviais e abastecer o carro foi uma delas.
Sentiu que estava ainda mais certa sobre o individualismo das pessoas, quando pediu ajuda e ninguém lhe deu atenção. Ficou ali, com o carro parado naquele bairro escuro, no meio da marginal, olhando os suntuosos luminosos com as propagandas que assolam o longo muro do Jockey Club.
- E daí? – pensou ela – Ninguém está nem aí pra mim mesmo! A vida é muito estranha e as pessoas mais ainda.
Notou a presença de alguém a chegar, e pensou: Se fosse noutros tempos eu já estaria apavorada. Vão-me assaltar! Mas, do jeito que estou, que assaltem e quem sabe me tiram este fardo pesado que é viver...
Olhou para o lado e começou a gritar:
- Atire! Atire, não tenho nada para roubar...
Neste exato momento, ouviu um barulho com estrondo e ela viu-se no chão, ao lado de um homem que falava com ela.
- Estou morta? Consegui? Agora vou ficar em paz!
- Bem minha senhora, nem sempre podemos fugir tão facilmente assim de nossa missão nesta existência. Ao nosso lado está uma criança muito ferida. Precisamos de ajudá-la! Venha, tenho conhecimentos de primeiros socorros e, talvez, possamos salvá-la. Infelizmente os pais não tiveram a mesma sorte... – disse o homem.
Melissa disse então:
- Deus podia tirar a minha vida e dá-la a esta criança desfigurada, agora em meus braços, e à sua família dentro carro...
O homem exclamou:
- Assim seja senhora!
Ela sentiu-se um pouco estranha e, logo, percebeu que as pessoas envolvidas no acidente eram os membros de sua família. Tentou tocá-las, mas parecia que ninguém a notava.
Procurou o homem com quem conversou e percebeu que apenas ele podia notá-la. Perguntou-lhe como podia ser isso. Ele lhe explicou dizendo:
- Seu pedido foi atendido. Você deu a sua vida por esta família.
- Mas, esta é a minha família... – disse Melissa ao homem.
- Eu sei... – respondeu ele – Eles estavam à sua procura por toda a cidade, pois hoje é véspera de Natal, e todos sofriam pela sua ausência. Sofriam porque a amam e, essas pessoas todas que estão chegando ao local também a chorar, são suas amigas que largaram tudo na Ceia de Natal para vir prestar suas dores, aqui mesmo, no local do acidente. E você sempre pensou que nenhuma delas nada sentia por sua pessoa. Melissa percebeu que, durante muito tempo em sua vida, não soube responder com amor ao amor que recebeu das pessoas e, então, disse ao homem:
- Se Deus me desse mais uma oportunidade, eu mudaria e jamais deixaria os meus amigos, os meus filhos e o meu marido. Faria por eles tudo que deixei de fazer! Daria a eles o meu amor, de maneira incondicional!
- Assim seja feito! – disse o homem.
Melissa, então, olhou para o lado e gritou:
- Atire! Atire logo, não tenho nada para você roubar...
E, nesse momento, uma mão lhe tocou o rosto dizendo:
- Calma, meu amor, sou eu! Seu marido! E, logo depois, ouviu-se, um barulho, um estrondo... Era do cano de escape de um caminhão que por ali passava. Em seguida, os filhos de Melissa saíam do carro indo ao seu encontro, e outros carros estacionavam e, deles, desciam suas amigas.
Seus filhos a abraçaram e disseram:
- Venha mamã! Procuramos a senhora por toda a cidade nesta Noite de Natal. Queremos mudar as nossas e a sua vida e, para isso, vamos rezar e comemorar Jesus, para que, juntos, Ele nos faça encontrar a felicidade novamente!
Melissa abraçou o marido e os filhos e notou, do outro lado da Marginal, o Homem com o qual conversou, acenando-lhe um adeus e caminhando sobre as águas do rio, desaparecendo na névoa daquela noite...