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22 December 2007

Os desejos de um Feliz Natal

E porque não queria deixar de desejar um bom Natal, "a todos vós" - tal como na música que me persegue desde a infância e sem a qual já não consigo passar - deixo-vos aqui os meus votos de paz passada ao lado da família e dos amigos, sem os quais não poderíamos ser totalmente felizes.

Desejo-vos uma noite cheia de alegria, prendas e doces no sapatinho. Não só para as crianças mas também para os adultos (porque nós também gostámos).

E que tal terminar com um doce vídeo? BOAS FESTAS!!

06 December 2007

Vara verde

Quando me sinto inspirada e apoiada, sei que é a altura ideal para dar o meu melhor. Sei que posso ir mais um passo em frente, mas a custo. Como os passos inseguros de um bebé que aprendeu a andar há pouco tempo. Tenho medo de escorregar no passo seguinte. E é mais fácil ficar parada, em pé, à espera de algo para me agarrar.
Por vezes, fico à espera do cajado que me liberta da minha inércia. Desmotivo-me logo que as pernas vacilam. É assim que vejo a minha vida. Com vários caminhos e são todos diferentes. Com níveis distintos de quilómetros (ou centímetros) já percorridos. Alguns, gabo-me de já ser uma verdadeira viajante de calos nos pés e tudo. Outros, os calos estão nas mãos de tanto andar de gatas a tentar me levantar (é difícil erguer-me, quanto mais andar!).

Dou, também, cabeçadas em becos sem saída. Páro para pensar nas minhas ideias nestes becos de muros altos sem retorno. Nestas paredes invisíveis, encosto-me e penso. Mudo o meu ponto de vista, a minha opinião. Revejo as situações. Atravesso a muralha e debato-me com tristeza de reconhecer que errei.
Fico espantada comigo mesmo por ter cá chegado - aos becos sem saída. Deve ser por não haver sinais de trânsito. Sou cumpridora de sinais e regras, desde que lá estejam. Tenho, também, a sensação de passar pelo mesmo caminho várias vezes como se me tivesse perdido – e não é por ser uma gaija! (com sotaque nortenho e tudo). Já vi homens passar vezes sem conta pelo mesmo trilho e nem sequer tentarem mudarem a rota – deve ser por serem homens e não quererem perguntar o caminho!

Gostava de terminar todos os caminhos que começei. Sei que me canso e faço pausas, com mais ou menos entusiasmo, mais ou menos prolongadas. Por vezes passa, o entusiasmo, e fico aflita, com o peso da responsabilidade de um caminho ainda a meio.
Há, felizmente, os caminhos já terminados. No fim dessas estradas há uma recompensa que temos de procurar, como um tesouro enterrado. No interior, se conseguirmos achar o báu e abrir a fechadura que tem uma chave diferente de todas as vezes, encontraremos a razão pela qual gastámos os sapatos. Nem sempre gosto da recompensa, confesso. É aí, que fico sem saber o que fazer. Mas são sempre úteis as recompensas. De alguma forma tornam-me mais forte.

E quando penso que já não há muita esperança neste caminho, tenho a certeza de, a qualquer momento, vou dobrar uma esquina qualquer da vida e descobrir uma estrada nova para recomeçar... eis um dos ingredientes para a vida.

26 October 2007

Também quero ser forte

Não, não era assim que eu queria começar. Era por qualquer coisa, uma palavra qualquer que definisse tudo aquilo. Mas não a encontro. Não tenho a palavra que resuma este pedaço da minha vida em questão de segundos e me poupe à lembrança dos acontecimentos recentes. Não há uma só que descreva a tentativa de aliviar outra dor: de apoiar uma tia à beira da morte, plenamente consciente do seu destino. Que sorri, sorriso sincero, ao ver a família a visitá-la. Que ouve atenta, sem forças para mais, à descrição da minha vida. Que responde à pergunta “Está cansada tia?” com a ligeireza de uma mente desperta: “Fui ao baile, cheguei tarde”, responde sem força para mais, da sua cama hospitalar. E ri-me, no meio da desgraça, por ter sido apanhada numa graça, de justificação impossível, acompanhada de um humor que não esperava. E todos imaginámos um baile qualquer onde a tia participou, com o seu cabelo ralo e estômago vazio (não comia há 2 semanas) mas de sorriso aberto, na sua baixa condição.
Poderíamos ter feito mais? Duvido. Duvido de tudo, da doença, da família, da natureza humana.
No fim, não consigo esquecer as palavras trocadas entre tias, da última visita que lhe fiz e a vi com vida, no meio de uma doença instalada e que a levou definitivamente: “O que são as mulheres?” perguntou uma. “São fortes” respondeu nas suas últimas palavras.

08 October 2007

(Com)passo de tempo

Há um compasso que marca o tempo. É o mesmo para todos. Nem todos acham que é o mesmo.

Caio nas recordações de infância, onde o tempo ora encolhia, ora esticava, ao sabor da minha felicidade. Parecia ser submetido a constantes testes de elasticidade, de consistência, nos cenários do meu dia-a-dia. Ganhava especial resistência nas aulas dadas pela professora Hemengarda, que apesar de não dar réguadas, era severa na ortografia e nos deveres.
E no recreio....
O recreio era um pátio com uma divisão invisível. Do lado direito, debaixo do telhado de zinco, brincavam as meninas que tinham a sorte mal-destinada de ficar mais perto da janela da cozinha. No parapeito, era colocado religiosamente durante o recreio, um tabuleiro com copos de plástico e um jarro laranja do mesmo material, cheio de àgua da torneira com lexívia para "desinfectar" o precioso líquido. O sabor intenso com que ficava impedia-me, muitas vezes, de matar a sede. E sentava-me no banco de cimento (ou era um muro baixo?) a olhar para a esquerda do pátio, onde os meninos brincavam. Daquele lado, só havia a rede a contornar o muro. Não tinha cobertura e podia-se olhar para céu. Também não havia escorregas ou baloiços. Era apenas um espaço vazio que se enchia de crianças a meio da manhã. As brincadeiras eram feitas com jogos entre as meninas onde, às vezes, os meninos participavam sobre o olhar e orientação da professora Hemengarda. Tudo muito correcto e todos bem-comportados, de batas vestidas e costas direitas.

Desde aí, o compasso mantém-se na sua contagem infinita, com o mesmo ritmo, sem pressas, alheio aos episódios da vida, sabendo que a eternidade é a sua companheira leal. As recordações comprovam que não houve buracos negros a sugarem a infância e que não saltámos para a idade adulta logo a seguir ao nascimento. Teimam em habitar na nossa memória, como um hóspede incómodo mas necessário e poucas são as que partem pelo próprio pé. Muitas escondem-se em recantos esquecidos e ficam a aguardar o momento certo de aparecerem, guardadas como os bonecos-palhaço das caixas de manivela que pulam para fora à terceira volta.

Hoje, eu dei três voltas à minha.

20 September 2007

A noiva do campo mil

A noiva do campo mil é uma eterna noiva. Uma noiva sem noivo. Sozinha, não é mulher para esperar, resignada, no altar. Esta é uma noiva especial. É uma criadora de mundos verdes, iluminados, sem a cor que lhe dá nome. Na sua atraente pessoa, vivem seres e bestas vegetais, guardiões de portas de outros mundos, entes coloridos que fugiram de um imaginário infantil à procura de uma vida diferente com um bastão ao ombro e de saco pendurado na ponta. E gatos, e flores.
Nela, acima de tudo, vive o bom-gosto. E a educação, a beleza, a inteligência e o porte nobre de uma bailarina, rodeado de uma invisível aura branca.

É minha amiga.

13 September 2007

Pedaços de zumms

Talvez o mundo ande aos pontapés. Sem destino certo a não ser aquele que termina após cada rebolar. Em pedaços. Como um puzzle incompleto onde as peças principais estão noutra caixa.


Choveu. O barulho dos trovões fez-se ouvir por cima da minha casa. A noite parecia mais triste. A chuva fez brilhar os carros iluminados debaixo dos candeeiros públicos. E o chão e os eco-pontos degradados. Novo trovão. Barulho. Muito barulho. Não me lembro de ter ouvido no passado som tão alto vindo da natureza. A filha encolheu-se. Choramingou. Teve medo pela primeira vez da trovoada, nos poucos anos da sua vida. Um abraço e um jogo electrónico destrairam-na do seu pequeno monstro. E continuou a chover.

O país está triste pela perda da selecção portuguesa no campeonato mundial de râguebi e dá-se notícia da suspensão de um dos jogadores. Ninguém fala do tiroteio ocorrido na minha rua, à porta da minha casa, entre vários polícias e uns ladrões de carros. Parecia um pedaço de um filme mal realizado, de cenário urbano e nocturno, com os habituais mirones populares a completar o fim da acção – até uma velhota de cadeira de rodas saiu à rua para ir ver o “show policial”, empurrada por um homem gingão, de cigarro aceso preso na pontinha dos lábios. Vinte minutos antes eu tinha acabado de estacionar o carro vinda do emprego. E se eu me tivesse demorado precisamente 20 minutos?

Os jornais dão notícias de Madonna: o incidente com um dos seguranças dos Bloc Party que não reconheceu a cantora e expulsou-a dos camarins; do vibrador roxo no valor de 45 euros, ajustável à cintura e de velocidade variável que a estrela e o marido levavam num saco de plástico – pelos vistos, transparente. Mas ninguém fala da identidade do homem de 27 anos que morreu electrecutado por um raio nas chuvadas desta semana no sul do país, nem justifica o porquê da escolha mortal. Seriam as chaves de casa, o telemóvel, um boné com pins?

Promove-se a guerra e não o amor. Páginas de notícias sobre o Paquistão. Fala-se do Irão, da Coreia, do Afeganistão e da "quase?" agressão de Scolari. E na coluna “Planeta Bizarro” do jornal 24 horas vem a notícia “bizarra” de uma iniciativa promovida por um governador de uma provícia russa que incentivou os casais da região a prescendirem do trabalho às quartas-feiras para dedicarem o dia a fazer amor, devido ao baixo número de população existente. Mas não vejo na mesma coluna, a notícia do número crescente de nascimentos em ambulâncias devido ao fecho das maternidades em Portugal, onde enfrentamos a nível nacional o mesmo tipo de problema daquela região russa.

Notícias bizarras? Não. Pior. Verdadeiras.

05 September 2007

Mais um prato frio cheio de más ideiaotas, se faz favor...

Não adianta. Não vale a pena. Comigo é mais fácil que o difícil seja servido a frio, acompanhado de uma travessa a transbordar de más ideias. Não compensa demolhar o tradicional bacalhau no autoclismo para poupar água, aproveitar as cascas de cenoura para fazer queques de vender na feira ou fazer negócios da China do tipo compra-a-um-preço-vende-por-outro na internet.
Comigo, não. Simplesmente falham. Talvez seja recta demais ou a minha aura branca de veios lilás – comprova-o uma foto tirada numa das edições da feira do oculto que guardo religiosamente na carteira - atraia a honestidade, não sei, mas uma das duas deve ser.
Resultou quando comprei um jogo na net para a minha filha. Estava orgulhosa. Achei que tinha feito um bom negócio. Que pechincha. Porquê ficar por aqui? Decidi comprar um outro jogo, vendido nos States, fabricado em Singapura, eventual venda em Portugal. Pensei que nada poderia correr mal. Não havia nada para o impedir. Mas houve. Não consegui pagar online. Tinha de ser neste jogo, este que tinha destino certo, reversível em euros. Não podia ser num item qualquer, não senhor. Não ocorreu no saiote de noiva - que comprei e vendi no mesmo sistema – nem nos jogos anteriores ou mesmo quando a tia D se ofereceu para comprar os sacos vermelhos de corações dourados usados nas recordações do casamento. Tinha de ser no único item que ia ser a minha moeda de troca para um eventual lucro – positivo, esperava eu. A custo, arranjei outro método de pagamento. Daqueles que faz gastar tempo e gasolina. Daqueles em que se chega à conclusão que estamos a pagar mais do que aquilo vale. Ainda consegui colocar em risco a minha conta online, no limite de ser cancelada por falta de pagamento e com a participação num disputa escrita para resolver o caso. Interessante mas não fantástico.
Fico a consolar-me num jogo acabado de chegar que vale agora mais de 20 dólares, diferente do preço de etiqueta e a perspectiva sonhadora de que ainda hei-de fazer dinheiro com isto. Pois...

Sai mais uma travessa fria de ideiaotas para esta mesa, se faz o favor!


23 August 2007

em Vouzela novamente...

Tenho a impressão de ter parado no tempo. As ruas de pedra fazem-me lembrar uma cidade de brincar. Os passeios que não servem para passear - são demasiado estreitos -, o sino que repete as horas, a vista da floresta ou o comboio que faz a vez de eléctrico, tudo aprecio com um gosto desconhecido a uma rapariga de cidade.

Descobri porque o tempo me rende aqui. Está tudo mais perto. Não preciso de meia-hora para estacionar o carro, não preciso de mais outra meia-hora para ir da frutaria ao talho, não corro o risco eminente de ser atropelada - aqui o trânsito é proporcional às casas dos montes, um carro aqui, outro além.

Aguardo a ida à feira mais antiga de Portugal, eu que não gosto de feiras. Mas esta faz-me recordar a feira popular em Lisboa, agora fechada mas antes cheia de vida e cor, diurna e nocturna. Os carrocéis, a música, os restaurantes... tudo me deslumbrava e penso que só o era assim por ser criança. Ainda o serei?

07 August 2007

O Verão outonal


Na rua do pastor-guerreiro, o chão tem outra cor. As bermas dos passeios enchem-se de folhas castanhas tal como acontece sazonalmente no fim de Setembro. Há só um pormenor: estamos no início de Agosto.
As folhas caem prematuramente.
Olhamos para uma árvore e não imaginamos o seu dia-a-dia. Têm sempre uma aparência calma, dançam geralmente ao som do vento e os pardais que pousam nos seus ramos, com delicadas patitas, fazem as delícias do ouvido com o seu piar único. E imaginamos um mundo tranquilo.
Não é assim.
As árvores daqui da rua são atingidas com o contínuo ruído urbano: carros que passam dia e noite, concertos de jazz ao ar livre (será que gostam do estilo musical?), ambulâncias que voam no asfalto direitas a São José, obras no prédio do lado...
Serão as folhas caídas um reflexo das suas silênciosas queixas? Ou de uma mudança de tempo que se deixa adivinhar na linguagem das árvores?
Penso que as minhas férias também deveriam ser prematuras - ainda vou ter chuva em vez de sol se não me despachar. O aviso está à vista: as àrvores já começaram a despir-se.

06 July 2007

Zumm visto

Os braços compridos eram desproporcionais ao corpo - chegavam-lhe a meio da coxa - encaixados numa figura magra e não muito alta. A sua juventude transparecia nos passos ligeiros e o seu rosto não deixava adivinhar a verdadeira idade - talvez uns 19 mas também podia ter 22 ou 23. O ruído contínuo e irritante de uma banda qualquer de hevy-metal era tudo o que se podia ouvir do seu IPod branco, que contrastava com a roupa preta, desde as botas à t-shirt de esqueletos cruxificados estampados nas costas. O cabelo, apanhado num rabo de cavalo ao jeito masculino, tinha a mesma cor do resto do vestuário. Mas o rosto sério era iluminado por um olhar jovem e esperançoso, de quem ainda acredita num futuro radioso.

E olho, disfarçadamente, à procura de mais sinais evidentes - tatuagens, piercings - pistas inexistentes que indicam ainda não ter sido completamente assimilado por uma cultura gótica/urbana. E penso, concluo "este ainda pode ser salvo".
Só não sei bem ainda do quê, ao certo.

19 June 2007

Casada


E o grande dia passou! E tudo foi bonito, maravilhoso.

Houve fotos.
Choveu arroz e pétalas de pequenos cestos que surgiram não sei de onde. Houve um Mercedes, com um motorista amigo, para levar o novo casal e a recém-baptizada.

Houve festa.
Dançou-se, comeu-se e chorou-se.
Houve mais fotos.

Penso, ao olhar para trás, como me senti feliz pelo facto de a família estar lá, dos amigos estarem presentes, nós estavamos felizes e uma menina de olhos grandes como a mãe e sorriso maroto como o pai, mostrava-se orgulhosa no seu vestido branco e rodado de princesa.

24 May 2007

Escolhemos as alianças

Acabei de dar conta que este pequeno objecto vai-me acompanhar numa vida inteira.

16 May 2007

Cheirinho a casório (e baptizado também)


Os convites estão entregues. O vestido quase pronto. O dia está mais próximo. A filha vai ser baptizada. Mas eu... eu vou casar.

27 April 2007

Pequenos nadas

Há sempre um imprevisto, uma falha que tende em aparecer, uma mancha que insiste em cair na agenda organizada à meses com cuidado. Atrasos nos convites, artesanais e caseiros. Fitas que terminam ou insistem em não cumprir o seu objectivo. Corações de olho pequeno que não cumprem a tarefa a que se destinam.

O colar partiu-se. Foi reparado. Comprei outro. Estou na dúvida se leve um terceiro.

19 April 2007

Uma postada desabafada

É só para dizer que não desapareci, estou ocupada com o casamento e deu-me na bolha de escrever uns poemitas. Quem não tenha reparado, é o blog aqui ao lado que se chama Baú dos Poemas.

Já agora, casar neste país sai caro. Seja pelo civil ou pelo religioso. A exploração monetária é idêntica e mal explicada. Desde quando se paga pelo uso do espaço da igreja? Então quando se vai à missa também se paga para rezar? E se tenho de pagar certidões de nascimento - e assim assumo que são minhas - adquiri-las a pedido da burocracia do processo de casamento, porque tenho de as entregar à MESMA entidade que me as deu (conservatória do registo civil)?
Como é a primeira vez (única, espero) que vou casar, e nunca tinha preparado nada num casamento, sinto que embarquei numa viagem e levo comigo papéis, fatos, flores, colares, padres e mais umas coisitas. Algum tem um mapa?

21 March 2007

Uma Primavera como tantas outras mas...

Um tapete creme de sementes fofas, uma papoila vermelha num relvado verde e amarelo, um sol morno e acolhedor. Foi assim que a Primavera hoje se mostrou. Árvores em flor, sol primavril, vento ameno, borboletas, tudo isto já vi. Mas para mim ainda falta algo.


Faltam as andorinhas. Não é Primavera sem a chegada delas. Os ninhos construídos no ano passado estão lá debaixo das telhas do telhado vizinho, que vejo da minha janela. Alguns foram ocupados por pardais, aqueles que foram preguiçosos em fazer ninhos. Os pombos também os cobiçam mas são grandes demais para estas pequenas habitações.

Vou ficar atenta, à espera da chegada destes pequenos vizinhos voadores que me fazem sentir a verdadeira mudança de estação.

28 February 2007

Gaivota

Saio de casa e está a chover. Uma chuva miudinha. Não tenho chapéu e sinto as gotas de água na face. Fecho os olhos e durante um momento imagino que estou na praia. A cara está molhada. Sinto a brisa do mar que trouxe no seu manto, faripas de ondas, bocados de espuma. E de repente o cheiro de maresia aflora-se debaixo do meu nariz. Oiço uma gaivota. Imagino um dia de sol, brilhante, com o céu azul. Abro os olhos. O céu está cinzento. A chuva continua a cair. Estou molhada da chuva e não da maresia. Mas a gaivota... é verdade. Está uma gaivota a sobrevoar os céus à porta da minha casa.
E sorri. Falta pouco para a Primavera. Vou esperar para ir até à beira-mar e aí verei as gaivotas sobre as rochas, andando na areia, voando em voos taciturnos sob a água agitada.

26 February 2007

Eeeeh...huumm...


23 February 2007

Avó Carolina I

A minha avó tem 83 anos. É a avó que me resta. Tenho muito carinho por ela.
Mulher de armas, não parava a não ser para dormir. Sempre muito limpa e arrumada, viveu a sua vida como o caminho que escolheu, ou que lhe restou escolher para si: com muito trabalho, com muita labuta. Lembro-me dos tempos em que me sentava no colo dela, para beber o leite do biberão, do cheiro a detergente da loiça acabada de lavar que emanava das mãos dela enquanto me segurava no colo já pequeno para mim. Das comidas feitas no fogão a gás, em cima da pedra mármore da chaminé, trono que usara muitas vezes para cozinhar e para deixar que as tristezas lhe assaltassem o pensamento. Já não existe esse trono, nem o castelo que o acompanha. A casa era alugada e pertencia, sempre pertenceu, ao senhorio. Mais de quarenta anos não couberam na folha de papel assinada que legitimava a saída indesejada da casa que era sua.
Nunca o senhorio saberá as histórias daquela casa. As vidas que por ali passaram. Tantas. Que debaixo daquele tecto nasceram histórias de aterrorizar os mais valentes, nasceram intrigas, cultivaram-se desavenças, onde as paredes foram únicas testemunhas de infelicidades, de aflições. Também nasceram vidas ali dentro daquelas paredes, nem todas foram simples, mesmo à nascença.

No rosto redondo tem rugas macias, vincadas pela vida dura, olhos cor verde-azeitona, que vão ficando do tamanho de quem lhes dá cor. Um sorriso sempre no rosto mesmo quando sofre e quem a conhece, mesmo que a conheça bem, tem dificuldade em perceber quando sofre. Sofre em silêncio. Um sofrimento de doenças, de saudades de tempos idos, de pessoas que já morreram, dos primos falecidos com quem brincava na infância, da mãe que morreu quando ela ainda tinha doze esgazelados anos e lhe deixou a responsabilidade de ser a mais velha das três irmãs. Por ela, a sua mãe, é que a saudade nunca diminuiu, só aumentou. São 75 anos de saudades convertidos em lágrimas deitadas pela cara abaixo. E dela fala como se estivesse a falar de um anjo. Da sua doçura para com as filhas, da sua paciência, da sua generosidade, da sua compaixão por quem era pobre. A minha maezinha era incapaz de fechar a porta a quem viesse lhe pedir, por favor, um prato de sopa para comer, diz. Convidava a entrar na modesta casa onde viviam e oferecia o que tinha no lume de lenha, mesmo que só houvesse o seu prato de comida para dar, diz-me enquanto limpa os olhos. De todas as vezes que fala na mãe as lágrimas fazem companhia às suas palavras. Já me habituei a que assim seja.
E ouço os relatos de uma bisavó que nunca conheci, do anjo que o Senhor levou tão cedo, ceifada à vida tão nova.

19 February 2007

Só uma mulher sabe o que é...

* Passar a vida inteira a lutar contra o seu próprio cabelo.
* Comprar uma camisola que não combina com nada, mas que pelo preço estava irresistivel!
* Saber de memória os aniversários, quem se casou e quem se separou.

* Ter uma bolsa que parece a 'necessaire' da avó do 007, de tantas coisas acumuladas e incríveis que existem lá dentro.
* Falar de intimidades que os homens nem sequer imaginam.
* Ser tratada como uma idiota pelos mecânicos de uma oficina.
* Fingir naturalidade durante um exame ginecológico.
* O poder de uns jeans, o de uma blusa de lycra, para sustentar a estrutura do corpo.
* Ter crises conjugais, crises existenciais, crises de identidade, crises de nervos!
* Ser mãe solteira, mãe casada, mãe separada e... mãe do marido.
* Ver uma partida de futebol (só para fazer companhia ao namorado).
* Comer uma caixa inteira de bombons porque brigou com o namorado, sentir-se mal, e de se sentir destruida porque saiu da dieta.
* Escutar que "mulher ao volante é um perigo constante."
* Depilar as pernas cada 15 dias, com cera!
* Como se sente ao rasgar as meias na entrada de uma festa.
* Sentir-se pronta para conquistar o mundo, quando está usando um batom novo.
* Colocar uma cinta apertada para disfarçar a barriga.
* Dançar, cantar e caminhar no sétimo céu... só porque "ele" ligou ou escreveu.
* Brigar, só para depois fazer as pazes.
* Dizer não, para que ele insista bastante, e depois dizer... sim!
* Ficar esperando o marido na cama, quando ele está 'vidrado' no computador...
* O milagroso poder curativo de... um beijo..., um gesto..., e de uma palavra
doce.
* Ser santa, filósofa, mestra, médica, psicóloga, redentora, administradora, cozinheira, organizadora, juíza...
* Chorar, extasiada de felicidade, e... rir de fúria...
(De um e-mail que recebi e do qual me ri de nervoso miudinho....)

07 February 2007

Cenário aquático

E eis que comprado um set de peixes de silicone, a cena ao lado foi criada pela petiz que quis disfarçar o facto de ter rasgado a cauda de um dos peixes... e eu sinto-me orgulhosa de não ter havidos choros, nem discussões mas sim uma solução criativa.

18 January 2007

As mudanças sucedem-se

A igreja estava marcada. A quinta selecionada. Um imprevisto. Mal sabe ele, o marinheiro embarcado, o que me obrigou a fazer por, em prol do serviço à Pátria, não poder casar em Maio.
A Quinta avisou-me de dois casamentos na mesma data e na impossibilidade de me reservarem a sala onde eu quero casar. Por capricho, talvez, não quero nem outra sala, nem outro casamento a realizar-se no mesmo dia que o meu. Adiei o casamento uma semana. Pensei "não pode ser assim tão complicado". Estava enganada. Por esta altura, casamentos, baptizados e primeiras comunhões surgem nas agendas das igrejas às catadupas, num país que se diz em crise em matéria de religião. Na igreja central de onde vivo, o padre é rigoroso. Casamento sim, baptizado não. Porque baptizo a minha filha de 6 anos no mesmo dia em que me caso e sem dois anos mínimos de catequese não se pode baptizar. Como se Deus só aceitasse a minha filha daqui a dois anos.
Luto. Falo com outro padre, com outra igreja. Desta vez, parece haver luz ao fundo do túnel. O padre hesita, fala-me novamente nos dois anos de catequese. E eu vacilo mas não desisto. Penso "agora que consegui chegar até aqui, não posso voltar para trás". Abro o coração e explico porque só agora me vou casar, só agora posso baptizar a minha filha. Parece um lamento mas é a verdade. Ele ouve-me e aceita. Termina a conversa e saímos para a rua. E fico chocada, não sei porquê, quando o padre, de sorriso nos lábios, puxa de um cigarro, num maço do bolso de um blazer já velho que traz vestido, acende-o sem pressas protegendo a chama do vento frio da noite e alarga o sorriso para me perguntar algo que me deixa quase sem resposta: "já lhe disseram que ao fim de tanto tempo de namoro não valia a pena casar?" Pondero rapidamente mas respondo que não, era a primeira vez. "Não leve a mal a pergunta mas..." e continua contando o caso de uma senhora, muito religiosa, assistia sempre à missa ao Domingo, que passados 30 anos gostaria de casar. O marido não foi na conversa. Justificou que daria azar, as velhas e as vizinhas já lho teriam dito, e recusou-se a casar com a mulher, a mesma há mais de 30 anos. E ficou por casar.
Mudam-se os tempos mas as vontades continuam. Eu também me quero casar. Dará azar? Já lá vão 14 anos de namoro. Diriam as velhas senhoras e as vizinhas o mesmo de mim? Será que também me condenariam ao insucesso, à infelicidade?

12 January 2007

Coisas difíceis


Três coisas difíceis de dizer: amo-te, desculpa e ajuda-me.
Três coisas difíceis de fazer: plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho.
Três coisas difíceis de aceitar: amor, perdão e derrota.

09 January 2007

Zumm visto (e ouvido)

Faz-me impressão as mães que tratam o filho(a) por ‘você’ e já ouvi e vi várias cenas. Uma delas:
- João, não ponha as mãos na roupa. Não vê que estão sujas?
Nota: o João era uma criança de cerca de 3 anos, a quem deram um chocolate a comer, sem papel para segurar.
Outra:
- Margarida, o que quer comer?
Nota: a Margarida, além de ser uma criança pequena cheia de fome, era uma menina de cerca de 2 anos.

Alguém faz o favor de explicar a estas mães que crianças tão pequenas necessitam de ajuda neste género de tarefas? E já agora, apresentem as mães aos filhos….

08 January 2007

Ao dia de Reis

Sábado foi dia de Reis. E dia de catequese. E dia de visitar uma família pobre, com a mãe acamada e com três filhos, a quem foram dados problemas de saúde diferentes, como quem distribui mal as prendas. Foi dia de ir à igreja, à festa ditada pelo padre da paróquia onde moro, conhecer a igreja recentemente inaugurada, toda branca e moderna, de paredes recortadas com janelas estreitas e altas, daquelas de caixilhos de alumínio, que deixam passar toda a luz do dia, de altar sem rococós com um grande crucifixo desenhado (?!) em vez da cruz em madeira, com Nosso Senhor em relevo. Vou casar na Igreja da Luz, em Carnide. Pensei que esta, apesar de ser pequena e de não ter tanta luz, era mais acolhedora e tinha mais história para embrulhar o casamento do que esta igreja lavada em lexívia e posta a secar ao sol.

Domingo foi dia de almoço de família e loiça por lavar. E uma ida à Exponoivos. E ao hospital também. O noivo ficou doente e o dia terminou comigo a aguardar num corredor de S. José, em conversa amena com um senhor internado que se escapou da cama para sustentar o vício com dois cigarrinhos quase de seguida, enquanto o corredor largo, comprido e vazio, caia no silêncio da noite. E loiça lavada por metade às tantas da noite.

Foi-se o fim-de-semana, a Exponoivos, o dia de Reis e resta uma árvore de Natal por desmontar.

04 January 2007

2007

Vá se lá saber porquê mas o ano 2006 acabou e não levou com ele os meus problemas, nem as minhas tristezas ou preocupações. Passou o testemunho em carta selada, direitinho para as mãos de 2007, com as indicações expressas de como continuar a tratar dos meus assuntos de forma empírica e sem deixar um telefone de contacto em caso de dúvidas. Assim, dependo agora de 2007 para tratar dos meus assuntos. Vejo-me com um ano que mal conheço, sem referências nenhumas, saido de fresco do primeiro dia do calendário e sem direito a reclamar sobre o prazo limite do bom termo dos meus casos.

Quero saber como o sr. 2007 vai resolver a questão da minha falta de tempo para mim e para os poucos amigos que me restam. Quero saber como o sr. 2007 vai arranjar novas oportunidades de negócio, ou melhor dizendo qualquer que seja a oportunidade de negócio, que me permita ganhar um dinheirinho extra. E como é que vai resolver a questão dos meus assuntos de saúde pendentes por falta de tempo? Dar-me-á uns dias extra por mês?? Uma folga da minha própria vida por ano?

Fico a aguardar respostas mas digo desde já que as minhas expectativas são grandes e assim espero uma resolução da mesma grandeza. Tenho dito.