CLICK HERE FOR BLOGGER TEMPLATES AND MYSPACE LAYOUTS »

09 October 2008

Ideias em fuga

Despejo palavras como quem desperdiça tempo. Por cada uma, há um segundo que não volta para trás. Pesa-me na consciência este desperdício, tal como a ida à farmácia onde não comprei tudo e a ida à livraria onde não comprei nada. Tenho a percepção de que a mente me foge em direcção oposta àquela em que devia se concentrar. Tal como as minhas ideias quotidianas. Estas então permitem-se fugir ao meu controle, deslizando em caminhos separados, rindo-se da minha hesitação em persegui-las. Entenda-de que nem eu sei de onde vem a minha indecisão: se é a escolha de quem deva perseguir primeiro ou se é o cansaço que fala mais alto. Para elas, é indiferente.
Surge-me na mente um pequeno caderno que tenho na mala. É para eu escrever o que eu quiser, a qualquer momento oportuno ou iluminado. Pelo menos, foi o que pensei quando o comprei e o guardei entre a carteira e um pequeno bloco miniatura que exigia reforma há já algum tempo. Quando consigo colocar em práctica este plano anti-fuga de ideias, aí consigo cortar as asas das ideias que fogem. E elas, sem ter para onde ir, permanecem inalteradas nas linhas onde se arrumam. Esfrego as mãos de contentamento. A minha caça dá proveitos mas tenho de melhorar a técnica. É que algumas ideias são mais espertas que eu e fogem à ponta da caneta.
Vou mudar para o lápis.

02 October 2008

A corrida

A formiga sentiu o peso do seu mundo. Ora nas costas, ora nas pequenas e frágeis patas. Corria de um lado para o outro, sem meta definida. Todas as corridas eram importantes. Em nenhuma se lhe via o fim.
Numa pausa entre duas agitadas corridas, onde o almoço pequeno lhe caiu pesadamente, olhou as folhas das árvores. Apesar do dia ter sol e não estar frio, o vento corria de um lado para o outro. Ao contrário da sua azafáma, fazia-o com graça. As folhas mexiam-se e remexiam-se cada uma para seu lado, fazendo com que a árvore folharenta se inclinasse ao sabor do baile diurno. As nuvens tinham sido levadas, como que postas de castigo a um canto, deixando o céu azul aparecer até para lá do horizonte. Aqui e ali, havia sossego. Paz à espreita numa esquina ou banco de jardim. Até havia um pequeno riacho que parecia cantar, atirando convites a quem o quisessem ouvir. Mas o formigueiro não podia parar e ela era uma formiga.
Por isso, lentamente, colocou as patas uma à frente da outra e guiou-se para o meio da próxima corrida ingrata e já sua conhecida. Alguma vez a ganharia?