Porque ainda estou a descobrir Natália Correia, vou partilhar este poema da autora.
Fiz um conto para me embalar
Fiz com as fadas uma aliança.
A deste conto nunca contar.
Mas como ainda sou criança
Quero a mim própria embalar.
Estavam na praia três donzelas
Como três laranjas num pomar.
Nenhuma sabia para qual delas
Cantava o príncipe do mar.
Rosas fatais, as três donzelas
A mão de espuma as desfolhou.
Nenhum soube para qual delas
O príncipe do mar cantou.
Natália Correia
25 September 2009
Embalo de conto
Publicada por Heiabelha em 25.9.09 2 ferroadas
17 September 2009
O Burro da Terra de Miranda
O burro da Terra de Miranda não é assim tão burro. É até inteligente. Tanto como uma criança pequena de 5 anos.
Imagino uma criança aos pinotes. A felicidade ao alcance de um salto.
E o burro dá pinotes.
Com os saltos, vêm as canções, que embalam os sentidos.
E os canários da montanha também cantam. Fazem-se ouvir de muito longe. E também ficam tristes e aflitos. E os seus zurros tornam-se diferentes.
E uma criança feliz gosta de partilhar. Partilha a sua canção ou o seu pão. Passeia ao longo do rio e pelo trilho de terra batida. E o seu companheiro de viagem acompanha-a, traz-lhe a sacola, sem se queixar do peso ou do caminho.
Fim do devaneio.
Nota: As fotos são da AEPGA - Associação para o Estudo e Protecção do Gado Asinino onde se pode ler mais sobre a espécie.
Publicada por Heiabelha em 17.9.09 1 ferroadas
13 September 2009
Curtas - cúmulos
Estas são antigas
mas tem sempre graça passar os olhos :)
O cúmulo da lentidão
É cuidar de 2 tartarugas e deixar uma fugir.
O cúmulo da pobreza
Vender o almoço para comprar o jantar.
O cúmulo da rebeldia
Morar sozinho e fugir de casa.
O cúmulo da força
Dobrar a esquina.
O cúmulo da traição
Suicidar-se com uma punhalada nas costas.
O cúmulo da sorte
Ser atropelado por uma ambulância.
O cúmulo do azar
Ser atropelado por um carro funerário.
O cúmulo da economia
Usar o papel higiénico dos dois lados.
O cúmulo da preguiça
Levantar-se todos os dias às 5 da manhã para estar mais tempo sem fazer nada.
O cúmulo do barulho
Um casal de esqueletos fazendo amor em cima de um telhado de zinco.
O cúmulo da altura
Um homem ser tão alto que, quando come um iogurte, ele chega ao estômago já fora do prazo.
O cúmulo do vegetarianismo
Levar a namorada para trás de uma moita e comer a moita.
O cúmulo da velocidade
Dar voltas à mesa e apanhar-se a si mesmo.
O cúmulo da calvície
Salvar-se de um acidente por um cabelo.
O cúmulo da moleza
Correr sozinho e chegar em segundo.
O cúmulo da rapidez
Fechar a gaveta, trancá-la e meter a chave lá dentro.
O cúmulo da paciência
Esperar encher um balde furado numa torneira entupida.
O cúmulo da burrice
Olhar pelo buraco da fechadura numa porta de vidro transparente.
O cúmulo da magreza
Uma mulher comer uma ervilha e pensar que está grávida.
O cúmulo do egoísmo
Não vou contar, só eu é que sei!
Publicada por Heiabelha em 13.9.09 1 ferroadas