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23 January 2009

A cortina de outrora

O prédio tinha sido bonito.
As janelas típicas de Lisboa, as varandas de ferro forjado em desenhos retrocidos; os azulejos azuis com desenhos agora esbatidos; pedra, em vez de alumínio, a emoldurar os vidros das janelas altas. O prédio era ainda bonito mas decadente. No primeiro andar, a única janela com varanda estava partida e por ela atravessava a frágil cortina cinza, outrora branca virginal, a esvoaçar pela mão do vento e da chuva de inverno. Parecia mais um fantasma do que uma cortina. Mantinha-se no seu posto, condenada a cumprir o seu destino para todo o sempre ou pelo menos até cair em farrapos, que devia estar para breve. Nas restantes janelas, descobriam-se outras condenadas à porta fechada. Do alto do telhado, uns pombos olhavam em redor, procurando um abrigo da ventania que se fazia sentir. Um deles, voou até à condenada esvoaçante e parou no poleiro improvisado da varanda. A velha cortina abradou o seu movimento, como se tentasse não espantar o seu visitante. No conjunto, pareceu-me a única coisa decente a fazer. Uma visita à condenada. Mesmo que fugaz.

1 ferroadas:

AnadoCastelo said...

Infelizmente é o que não falta são prédios a cair de podres por essa Lisboa fora. E ainda querem eles povoar outra vez a cidade, quando foram eles (autarquia) a desalojar as pessoas para fazer não sei o quê.
Por acaso até sei, mas não digo. Ou digo? Principalmente deu aso que os drogados e os ladrões se apossassem desses lugares inospitos e ser dificil passear pela baixa à noite.