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18 July 2006

Nostalgia

Que seca! Mais um dia = rotina. A vida social foi por abaixo há já algum tempo. Resume-se ... espera. Não há o que resumir :P. É verdade. Não foi só por água abaixo como deixou de existir.
Este fim-de-semana, numa tentativa de ir à praia - só podendo ser totalmente compreendida por quem também tentou e desesperou com as filas por todo o lado, antes, durante e depois da Costa da Caparica (acrescentar o calor abrasador e temos o cenário composto) - conseguimos encontrarmo-nos com uns amigos a caminho da praia. As duas horas que se seguiram foram divididas entre a tentativa de estacionar, um pouco de conversa entre um mergulho e secar em cima da toalha e despedir para vir embora. A existência de crianças de ambos os lados fez com que os horários tivessem que ser cumpridos, diminuindo o tempo em conjunto.
E isto foi o melhor que se arranjou em vários meses.

Caí na rotina. Está, irremediavelmente, instalada no meu dia-a-dia. Como a nódoa que não sai. Não sei contorná-la ou enganá-la. Tento mas ela é mais esperta. Tem mais experiência do que eu. É da idade. Vencida mas não convencida. É assim que eu vejo a coisa. E vou tentado dar a volta. É difícil porque não há meios para isto. Faltam subsídios de apoio à exclusão social. Devia haver um em cada orçamento familiar. Para todas as idades.

Penso na minha avó, a única que me resta, que tem 82 anos e vive com a minha tia. Apesar dos netos a adorarem, a bisneta também, as filhas apoiarem-na, faltava alguém com quem falar. Uma amiga. Ela também não pode sair sozinha por muito tempo. A família que lhe resta está longe. Os poucos amigos falecidos. Alguns ela nem sabe da sua morte. Escondemos as notícias como se fossem rebuçados tirados da mãos de gulosos.
A minha avó tinha muito jeito para esconder as coisas. Lembro-me de uma vez que escondeu das minhas mãos o frasco de pó-talco que eu usava em vez da farinha para fazer "bolinhos" para as bonecas. Andei dias a espreitar o armário da casa-de-banho mas nada de frasco. Um dia, na cozinha, procurava uma embalagem (não me lembro do quê) e dei de caras com o pó-talco arrumado ao lado do azeite e do vinagre. Esteve ali mesmo à vista durante dias e eu não dei conta.
Tenho saudades desse tempo em que ela tinha ainda a sua casinha e cozinhava uns fabulosos rissóis de peixe que nunca mais comi nenhuns iguais. Preparava-os de raiz. Primeiro a massa. Com farinha, fermento, azeite, sal e água a ferver. Amassava tudo, enquanto fumegava, até ficar uma bola. Não sei como aguentava o quente. Deixava a levedar. A massa duplicava e era estendida com um rolo da massa em madeira e depois cortada em círculos com um copo grande de vidro - já não há copos de boca larga como antes, só canecas mas não é o mesmo - e recheava cada bolacha de massa espalmada com um delicioso refogado de peixe feito na frigideira preta, toda preta, pega incluída, a qual nunca percebi bem se era mesmo toda feita em metal. Depois dobrava a massa ao meio, em semi-círculo, e fechava delicadamente a borda, apertando a massa com cuidado. Eu comia pedaços de massa que ficava fora do copo, que formava os rissóis. Ou então, improvisava um rolo de massa com uma garrafa - que antigamente era quase todas em vidro, fossem de leite ou de água - e fazia pequenos rolinhos a imitar croquetes ou tortas, conforme a brincadeira. Tudo comestível.

Ela já não se lembra de como se fazem, por causa da idade avançada. Eu, por causa da tenra idade, não me lembro como se fazia. Só o que aqui está descrito. Como num sonho repetido, em que sabemos o que vai acontecer. Talvez ainda me venha a lembrar de mais detalhes e consiga lembrar-me da receita por inteiro. E aí venham os rissóis. E mais uns para a minha avó. Desta vez serei eu a deixar comer os bocadinhos de massa que ficarão do lado de fora do copo.

3 ferroadas:

AnadoCastelo said...

Que tal perguntares à mãe como se faz?

Heiabelha said...

AHAHAHAH. É verdade. És capaz de saber. Vou perguntar.

Anonymous said...

O Q?????
A MAE SABE COZINHAR???
:)