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17 August 2006

Ancas mentirosas, pés mal dizentes

Sei que as minhas ancas mentem. Não são como as da canção, que se movem com graça, nem trazem suspensas, na ponta de um cordel, os pés, que se mexem ao mesmo movimento, o som da música. As minhas ancas mentem. Já foram mais bonitas - sempre grandes -, já se mexeram mais. Fui muitas vezes a uma discoteca na Costa da Caparica e aí mexeram-se muito. Sozinhas ou acompanhadas do ondular dos cabelos compridos. Viraram-se pares de olhos para verem o entusiasmo com que se mexiam. E eu libertava-as juntamente com o resto do corpo, como se ninguém estivesse a olhar e sentia-me livre. Fazia pausas para recuperar, tendo copos cheios de água como companhia, a melhor amiga ao lado – trabalhava lá, ela e o namorado, hoje marido, e fazia-me companhia na pista ou nas escadas, sempre que podia tirar um minuto entre os pedidos comuns de águas, 7ups, whiskys cheios de coca-cola e pedras de gelo (conclui que devia ser a bebida dos meninos-tentando-ser-homens: sempre dá um ar maduro beber whisky e a coca-cola sempre disfarça o horrível sabor a álcool) – desforrava-me na house music do DJ da casa, aquele que nunca aprendi o nome e que também levava a namorada para a cabine de mistura por cima da pista. Sempre muitos clientes, sempre muito novos. Alguns, imaginava, terem fugido a um castigo qualquer dos pais e foram sem aviso prévio ali com outros amigos e amigas da mesma idade, de presença insegura mas divertida, de meninas a tentarem parecer mulheres – a casa-de-banho parecia os bastidores de um teatro antes do início do espectáculo, cada uma a retocar a maquinhagem trazida de casa, na mala ou em bolsas próprias – onde eu, obviamente, me incluía, maquilhava-me na altura em que a discoteca mal tinha aberto a porta e mesmo tendo o privilégio de ir de boleia até lá, sabendo que ninguém iria olhar a minha pintura facial e que não havia problema de o fazer em casa raramente o fazia - umas a ajeitarem alças de sutiãs que insistiam em sair do sítio, outras mini-saias que subiam demais (uma mini-saia não sobe demais, só ao encontra o seu nível), malhas inesperadas numa meia de lycra (quantas atiravam simplesmente os colans para o lixo e eu achava o gesto o mais libertador possível, cheguei a fazer o mesmo numa fase em que qualquer marca que usasse tinha o fado de abrir uma malha a partir do mesmo dedo do pé, não o maior mas o que está logo a seguir, dedo em que culpei a unha declarada inocente ao fim de a ter cortado e a ter limado quase até ao sabugo e que descobri serem os meus sapatos os culpados, os sapatos pretos de dança só usados naquela casa, nunca no emprego ou na escola, que eram apertados mesmo naquele ponto e que não havia solução para o mal que atingia os meus colans).
Continuava a dançar até de madrugada, até o DJ passar a música-de-ir-embora, horrível (a minha amiga explicou que era uma técnica usada pelo o DJ, e aprovada pelos donos da discoteca, para que os últimos clientes saissem e se eu não fosse para casa à boleia, garanto que também iria embora) até desligarem as luzes e pagarem aos empregados, pagos à semana ao início das manhãs de domingo, e irmos os três, eu, amiga e namorado, gastarmos uma parte na pastelaria ali perto em torradas, sumos de laranja e e meias-de-leite com cheiro a café acabado de moer, tentado não cheirar muito a tabaco – tarefa impossível depois de uma noite inteira dentro da gigantesca nuvem flutuante de fumo em torno da pista de dança. E voltava para casa, cansada, com os pés a mal-dizerem de tantas horas sem descanso mas de coração leve, com um sorriso nos lábios e sem colans.

1 ferroadas:

AnadoCastelo said...

Quanto às nadegas uma ginasticazinha resolve, uns cremezinhos também ajudam. E que eu saiba não és mal feita. Mas enfim.