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08 October 2007

(Com)passo de tempo

Há um compasso que marca o tempo. É o mesmo para todos. Nem todos acham que é o mesmo.

Caio nas recordações de infância, onde o tempo ora encolhia, ora esticava, ao sabor da minha felicidade. Parecia ser submetido a constantes testes de elasticidade, de consistência, nos cenários do meu dia-a-dia. Ganhava especial resistência nas aulas dadas pela professora Hemengarda, que apesar de não dar réguadas, era severa na ortografia e nos deveres.
E no recreio....
O recreio era um pátio com uma divisão invisível. Do lado direito, debaixo do telhado de zinco, brincavam as meninas que tinham a sorte mal-destinada de ficar mais perto da janela da cozinha. No parapeito, era colocado religiosamente durante o recreio, um tabuleiro com copos de plástico e um jarro laranja do mesmo material, cheio de àgua da torneira com lexívia para "desinfectar" o precioso líquido. O sabor intenso com que ficava impedia-me, muitas vezes, de matar a sede. E sentava-me no banco de cimento (ou era um muro baixo?) a olhar para a esquerda do pátio, onde os meninos brincavam. Daquele lado, só havia a rede a contornar o muro. Não tinha cobertura e podia-se olhar para céu. Também não havia escorregas ou baloiços. Era apenas um espaço vazio que se enchia de crianças a meio da manhã. As brincadeiras eram feitas com jogos entre as meninas onde, às vezes, os meninos participavam sobre o olhar e orientação da professora Hemengarda. Tudo muito correcto e todos bem-comportados, de batas vestidas e costas direitas.

Desde aí, o compasso mantém-se na sua contagem infinita, com o mesmo ritmo, sem pressas, alheio aos episódios da vida, sabendo que a eternidade é a sua companheira leal. As recordações comprovam que não houve buracos negros a sugarem a infância e que não saltámos para a idade adulta logo a seguir ao nascimento. Teimam em habitar na nossa memória, como um hóspede incómodo mas necessário e poucas são as que partem pelo próprio pé. Muitas escondem-se em recantos esquecidos e ficam a aguardar o momento certo de aparecerem, guardadas como os bonecos-palhaço das caixas de manivela que pulam para fora à terceira volta.

Hoje, eu dei três voltas à minha.

2 ferroadas:

AnadoCastelo said...

Engraçado como te lembras ainda desses tempos da professora Hemengarda. Há coisas que nunca esquecemos e principalmente os tempos em que fomos crianças.
Jokas

kroghan said...

GOSTEI ESPECIALMENTE DO ULTIMO PARAGRAFO E DA ULTIMA FRASE.
MUITO MUITO BEM.
;)