CLICK HERE FOR BLOGGER TEMPLATES AND MYSPACE LAYOUTS »

18 April 2006

O outro lado do campo

O almoço de família em domingo de Páscoa foi na casa da minha tia, para os lados de Santarém. Os meus tios são pessoas da cidade que tiveram a possibilidade de ir para o campo. A minha tia, mulher de acção sem medo de trabalho (apenas de bichos), viu a oportunidade de ter uma casa de campo. O meu tio, homem bruto mas culto, viu a oportunidade de ter uma pequena quinta. O resultado foi uma mistura de ambos. Uma casa decorada com gosto com um pomar na frente e pastagem atrás.
Aos poucos, como se de uma colecção se tratasse, foram surgindo os animais. Primeiro um cão, dócil e armado em D. Juan, depois outro com ar enganador de fera. Mais tarde, um gato de pêlo todo branco e outro malhado, com mania de que é tigre. Todos se deram bem, sem fazer justiça à guerra “cão e gato”.
As galinhas tiveram que esperar que o galinheiro fosse acabado mas depois vieram cerca de 15, contando já com o galo. Na mesma morada, vivem também três pombos.
E como uma pastagem serve para pastar, faltava a quem dar o pasto a alimentar. Vieram as ovelhas: duas ovelhas e um carneiro, para ser mais exacta. Por fim, a última aquisição está instalada ao lado do galinheiro: um casal de coelhos.
Pensei que a minha tia, pessoa pouco dada a animais, gostaria de ter uma variedade mais limitada. A ideia partiu, na verdade, do meu tio que fez questão de vestir a personagem de pequeno agricultor.
Desde o dia em que se mudaram, achei que duas pessoas da cidade, sem experiência de campo, poderiam ter algumas dificuldades com o novo e variado espaço. Tudo parecia correr bem. Foi relativamente simples tratar dos cães. Arranjar guarida para os gatos, também. Talvez, pensei eu, fosse mais fácil do que parecia. Ou não.

Há cerca de um mês, ao ir dar de comer às ovelhas pela manhã, o meu tio encontrou, com grande espanto, não três mas quatro ovelhas. Uma tinha engravidado, pariu um cordeiro e ninguém deu conta.


A história de domingo começou pela briga dos coelhos. Um já tinha a orelha roída. O meu tio pediu conselho a um vizinho, homem do campo, pessoa prestável e mais entendida em coelhês. À vista desarmada, o bom homem sorriu e chamou a mulher. Foi a senhora que confirmou a notícia. Não eram dois machos, não senhor. Eram um macho e uma fêmea. A luta prendia-se com o facto do macho estar a pisar o ninho que a fêmea tentava construir. Ninho? O olhar do meu tio aguardava a inevitável notícia. Estava grávida e paria ainda hoje, sentenciou a boa senhora. Abanos de cabeça e uma coelheira limpa o mais rapidamente possível e enchida com palha, foi o resultado. O coelho foi hospedado no galinheiro, à pressa, para deixar a coelha à vontade. Não sem o protesto espalhafatoso das galinhas que fugiram para um canto (galo, incluído, o medroso), incomodadas com o novo e forçado hóspede.
As novidades não ficaram por aqui. A confusão gerada na moradia das (de)penadas fez surgir uma pequena bola amarela de patinhas finas por debaixo de um dos ninhos. Foi a minha filha que o descobriu. Não é um pintainho? Sim, é. Filho único no meio da confusão.


A tarde já ia a meio e a coelha, aflita, andava com a palha na boca de um lado para o outro, alisando, compondo o pequeno espaço.
Era preciso vir embora para casa mas não resisti, fui ver de novo a coelheira. Apanhei o terceiro coelho a nascer, pequeno e sem pêlo, como um pequeno hamster mas de orelhas maiores. Todos fomos ver.
Pus-me à estrada.


A Mãe quando fala é para ser ouvida, quer a palavra cumprida, boa ou má. Não espera ordens, nem cumpre prazos senão os que ela faz. Continuará a falar para todos os seres vivos. Não vai esperar que o meu tio construa outra coelheira. Vai continuar no seu passo e o meu tio vai ter de a acompanhar.

1 ferroadas:

AnadoCastelo said...

Muito variada essa Páscoa.
Ioool