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12 March 2006

Festival quê?!?

Festival RTP da Canção 2006.
Nem dei conta de que iria haver um este ano. No meio de um zapping, tentei perceber que programa era este. Caretos a cantar? Caretos?!? A canção estava no fim e o seguimento do programa deu a entender que era o Festival da Canção. Voltou o Festival? pensei ainda de boca aberta. E com caretos??? Estaria a ver bem? Seguiu-se um intervalo.



O Festival RTP da Canção foi, num passado recente, o evento português mais importante e esperado do ano. Algo equivalente aos óscares hollywoodianos.

Há cerca de 15 ou 20 anos atrás, ouvia-se falar do Festival meses antes de acontecer. Antecipava-se a sua chegada com um sentimento quase infantil. Quem iria participar, quem escreveria a música vencedora ou quem a iria interpretar.

Falava-se do Festival nos cafés, nas pausas dos empregos, nos intervalos das escolas, nos transportes públicos. As comadres lá da rua visionavam qual seria o vencedor e esse era, certamente, aquele dos "olhos bonitos" ou o da "voz rouca". As conversas rodeavam os concorrentes e passavam de boca em boca. Até já havia um favorito ou favorita.

Havia também uma espécie de ritual. Algo que um bom espectador não podia perder. Tinha-se de se estar atento à data do início do Festival. Depois, comprar os cupões que, semanas antes, os jornais e a TV Guia publicavam e que permitiam que o público votasse com antecedência. Outra coisa a não perder era assistir à apresentação diária das canções que iriam participar e que passavam na televisão, uma por dia, dias antes. Absorvia qualquer um. Seria melhor que a do dia anterior? Homem ou mulher? Tinha boa voz? Ou é um grupo?

Lá em casa, à hora marcada, os olhos de todas nós não descolavam da televisão. A avó, sentada no velho sofá, de olhos brilhantes com saudade de outros tempos, ouvia atenta as letras das canções; a mãe tecia hipóteses sobre quem iria chegar ao fim e tentava decorar o nome dos concorrentes e respectivos compositores; eu tentava decorar o refrão da música preferida para não me esquecer qual era, para que no dia do Festival, voltasse a cantá-la como se pudesse ajudá-la a ganhar.

E o dia chegava. A voz do Fialho Gouveia fazia-se ouvir e o Festival começava. Apresentava-se o júri, passavam as canções, seguia-se as votações do júri, as votações do público, o suspense da contagem dos votos, a vitória. De novo, a música vencedora.
E ainda havia mais. Repetia-se todo o processo ao ver Portugal representado na Eurovisão, onde a canção portuguesa competia com outras europeias.

De volta ao fim do intervalo, outra canção. O intérprete é Beto. Não o reconheço. Oiço a entrevista pré-gravada. A canção inicia e não me agrada. Olho para o fato branco do Beto e saltam à vista os sapatos. Parecem sapatos de palhaço. E é inevitável. O riso sai espontâneo da boca para fora. Credo. Ele está a cantar ou a actuar? O realizador devia estar a tentar disfarçar o que era óbvio e faz planos do público e do júri. Descubro a presença de Simone de Oliveira que canta junto com o coro, aplaúde e sorri com o mesmo entusiasmo que sempre lhe conheci. A música termina.

A voz de Elídio Clímaco, muito mais velho mas com o mesmo timbre inconfundível, transporta-me imediatamente a outros tempos e a outros programas - quem não se lembra dos "Jogos Sem Fronteiras", tão entusiasmantemente relatado por Élídio? E traz-me uma saudade que pensei não existir, enquanto ouço a apresentação feita por esta voz que mistura o presente e o passado a cada palavra.

Segue-se o júri. Ok. Não apanhei isto do princípio. É o Felipe La Féria? No júri? Bem, se calhar é impressão minha. Não, não é. Introduz no seu discurso uma homenagem sentida a Fernando Tordo que faz o público levantar-se das cadeiras com aplausos à mistura. Relembra outros artistas e sublinha a presença de António Calvário, o 1º concorrente do Festival de 1974. Ah. Afinal isto está a tornar-se didáctico, pensei. E, sem ninguém pedir, António Calvário salta da cadeira a mostrar a sua nova plastificada cara, com um aceno de mão e um ar sorridente. Eu também salto mas para não deixar queimar o jantar e volto asap.
Simone, com a sua voz forte, faz um curto discurso mostrando-se solidária com os concorrentes. Sabe o que é estar no palco e não o esqueceu.

Segue-se a pontuação. O quadro das votações surge no ecrã. Supresa! Os votos não são secretos! Estão discriminados um a um, por debaixo das iniciais do júri. Ok. Mais uma novidade. Suponho que no fim do programa (em directo) os artistas vencidos poderão desforrar-se do júri (para este caso, favor seguir as indicações: 3ª porta do lado direito, após o contornar o cenário. Em caso de dúvida, será colocado uma tabuleta com a palavra "júri" pendurado do lado de fora da porta).

Outro comentário. Tó Zé Brito. Um discurso que não ouvi. Mais uma ida à cozinha. A atribuição continua. Fátima Lopes faz o seu discurso. Fátima Lopes?!? Eeehh. Será que mudei de canal? É o ModaLisboa? Não. Ainda estou no Festival. Ok. Concluo que a lógica, agora, é que os concorrentes sejam avaliados também na sua apresentação. Isso ajuda a explicar a posição das concorrentes que vão à frente. A intérprete da canção "Sei quem sou (Portugal)", Vânia Oliveira, tem um vestido branco justo até à cintura, decote favorecido - quase até ao umbigo que mostra umas mamas muito redondas -, cintura fina e saia curta com cauda a tocar no chão - que permite ver umas pernas bonitas (até a Simone frizou ser um detalhe importante para a Eurovisão). Tenho de admitir que tem uma boa voz, não é só um corpinho bonito mas este ajuda muito. Talvez, afinal, estejamos a tentar entrar num novo concurso, um Modavisão ou assim.





Seguem-se as Non-stop que apostaram nas mini-saias (e na música inspirada nos anos 80 que não tem nada de original, a não ser a letra, claro). Temos uma disputa entre mamas e pernas, portanto. Quem sairá vencedora?



O último elemento do júri a falar é João Gobern. Suado, bem falante e de várias vezes com a palavra cortada pelos apresentadores - com muita pena minha pois foi uma das opiniões mais realista e crítica. Após a sua votação, vislumbra-se um 1º lugar que ainda não é definitivo. Falta o povo. O Zé Povinho tem a palavra. Está à frente as maminhas, seguidas das perninhas. Qual será o gosto do Zé Povinho?

O fim da votação por telefone (e internet) termina. O computador regista e ordena os votos. Outra nova modalidade. Uma contagem decrescente. Estamos a 30,...20, ... (porquê começar no 30?)...10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 4, 2, (viram bem porque o 3 não apareceu), 1, 0. E a vencedora é..... Um empate. Entre as mamas e as pernas.

Agora está renhido. Como é que se desembrulha este pacote vencedor? Fiquei à espera da resolução, com uma certa curiosidade, à espera, talvez, de um comentário do júri ou até, quem sabe de um sorteio bola-branca, bola-preta. Até me desencostei do sofá e arregalei os olhos (ouvidos também que a confusão já era grande no auditório). A resposta veio de seguida. Nestes casos, vence a canção a quem o júri atribuiu mais votos. O quê??? Vencem as pernas? Não pela interpretação, nem pelas vozes (são 4 as Non-Stop) mas pelos votos de 5 elementos que compunham o júri contra centenas de espectadores (ou dezenas que eu não os contei mas por certo que foram mais do que 5) que formam uma opinião nacional??

E o público presente também reagiu. "Vânia, Vânia, Vânia", chamavam com aplausos.
As expressões das concorrentes no palco variavam entre o espanto e a alegria (e a incredulidade da Vânia). O realizador saltitava entre câmaras. Outra expressão sorridente da Vânia, amarela entenda-se. Isto fugiu para o dramatismo. Parece um Big Brother versão musical. A confusão continuou com os apresentadores a tentarem terminar o Festival, esforçando as vozes para se sobreporem aos apupos.
Enfim, a canção vencedora fez ouvir novamente, último ritual inalterável deste Festival.

E foi mais um Festival da Canção. Não foi?

Sugestão: Para os caretos-cantores, sobreviventes ao calor sentido no auditório, poderia ter sido atribuído um prémio pelo melhor esforço de compostura em palco e por terem aguentado até ao fim da emissão sem tirarem um único fio de lã de cima do corpo.

2 ferroadas:

Anonymous said...

a 1ª ferroada vai ser aminha??
gostei do post. muito bom especialmente a conversão dos artistas para o mais explicito q tinham em palco (mamas e pernas)
gostei.
:)

AnadoCastelo said...

E a 2ª ferroada é minha e com muito gosto.
Realmente tens razão o festival da canção já era.
E continua-se a mostrar o País que somos, é mt triste dizer mas é assim, somos ou continuamos a ser um País de aldrabões.
Ah e gostei mt espero que continues
Bejos